quinta-feira, 29 de abril de 2010

Lula é o líder mais influente do mundo pela "Time"

Presidente foi considerado pela revista o líder mais influente do mundo.

Fonte:
iG São Paulo | 29/04/2010 11:15
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/lula+e+eleito+o+mais+influente+do+mundo+pela+time/n1237599597914.html

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva é o líder mais influente do mundo, segundo a revista "Time", que publicou nesta quinta-feira uma lista - dividida em quatro categorias - que inclui também o ex-líder americano Bill Clinton e a cantora Lady Gaga.

A sétima lista anual da publicação das 100 pessoas mais influentes do mundo coloca o presidente Lula, de 64 anos, no topo dos líderes mundiais. Nessa categoria, o presidente dos Estados Unidos, Barack Obama, é o quarto. (Veja a lista completa no site da revista "Time" (em inglês)

"Lula é um legítimo filho da classe trabalhadora da América Latina", afirma o documentarista Michael Moore, que escreveu o perfil de Lula para a revista.

Moore destaca em seu texto que "aquilo que Lula quer para o Brasil é o que nós costumávamos chamar de Sonho Americano".

"Líderes"

Depois do presidente, estão na lista J.T. Wang, presidente da empresa de computadores pessoais Acer, e o chefe do Estado-Maior Conjunto dos Estados Unidos, o almirante Mike Mullen. O presidente do Estados Unidos, Barack Obama, está em 4º lugar e a presidente da Câmara de Representantes dos EUA, Nancy Pelosi, em 5º.

Entre os líderes em destaque também estão Sarah Palin, ex-candidata republicana à vice-presidência do Estados Unidos; o diretor do Fundo Monetário Internacional (FMI), Dominique Strauss-Kahn; os primeiros-ministros japonês e palestino, Yukio Hatoyama e Salam Fayyad, e o chefe do Governo da Turquia, Recep Tayyip Erdogan.

"Heróis"

Na categoria "Heróis", a "Time" escolheu o ex-presidente norte-americano Bill Clinton, de 63 anos, como líder por seu trabalho como enviado das Nações Unidas ao Haiti. O texto foi escrito pelo cantor irlandês da banda U2, Bono Vox, que defende que, "sem Clinton, o universo não seria tão amigável para os humanos".

Nessa categoria, também estão a sul-coreana Kim Yu-na, que este ano conseguiu o primeiro ouro em patinação artística para o seu país na Olimpíadas de Inverno em Vancouver, Canadá; o opositor iraniano Mir Hussein Musavi; e o ator Ben Stiller por seu trabalho na reconstrução de escolas no Haiti.

"Artistas"

Entre os artistas e celebridades, a revista destaca o domínio da nova-iorquina Lady Gaga, que aos 24 anos conseguiu inúmeros sucessos mundiais com seu primeiro trabalho e com aparições surpreendentes.

"O trabalho de um artista é retratar - seja por meio de palavras ou sons, letras ou música - como é estar vivo em seu tempo. A arte de Lady Gaga captura o período que vivemos", afirma a cantora Cindy Lauper para a "Time" no artigo em que destaca a "admiração" que sente pela jovem artista.

Abaixo dela, a revista colocou o humorista televisivo Conan O'Brien, que voltará em breve à televisão após abandonar a "NBC", a cineasta Kathryn Bigelow, que se tornou a primeira mulher a ganhar um Oscar de melhor direção por seu filme "Guerra ao Terror".

Oprah Winfrey também está entre os escolhidos deste ano, assim como o diretor de "Avatar", James Cameron, e o costureiro Marc Jacobs, diretor criativo da empresa francesa Louis Vuitton.

"Pensadores"

Na categoria "pensadores", fazem parte da lista a arquiteta anglo-iraquiana Zaha Hadid, o executivo-chefe da Apple, Steve Jobs, e o ex-presidente do Federal Reserve Paul Volcker. A juíza norte-americana Sonia Sotomayor, de 55 anos, a primeira mulher hispana a chegar a um tribunal nos Estados Unidos, também está na lista da "Time". Ela foi escolhida por Obama, no ano passado, para ocupar o cargo.

(*com informações da agência Efe)

terça-feira, 27 de abril de 2010

Suape é uma revolução em Pernambuco.

O pernambucano quer voltar

“Aqui só não tem emprego quem não sai de casa.”

É a frase do Carlos, garçom do restaurante Beijupirá, de Porto de Galinhas, perto de Recife.

A meia hora dali fica Suape.
Suape é um porto e um distrito industrial de 14 mil hectares (o maior porto da Europa, Roterdã, tem 5 mil ha).
Tem 96 empresas.
20 plantas em construção.

A General Motors do Brasil também vai para lá.
São investimentos de US$ 20 bilhões, o que é igual a 28 anos de investimentos privados em Pernambuco.
Hoje, Suape emprega, diretamente, 30 mil pessoas.
Quase todos recrutados na região metropolitana de Recife – muitos, filhos de cortadores de cana e pescadores.
Suape será o destino de um ramal da Trans-Nordestina, o que se concretizará ano que vem.
(O outro será Pecém, no Ceará.)

No PAC2, Suape vai construir um terminal açucareiro, um novo terminal de containeres e um terminal de granéis sólidos.
A maior obra de Suape é a Refinaria Abreu e Lima, da Petrobrás, em parceria com a PDVSA, da Venezuela.
(Abreu e Lima foi um militar pernambucano que lutou ao lado de Simon Bolívar.)
A refinaria é a primeira que a Petrobrás constrói em 30 anos.
Ocupará 630 hectares, ou seja, o equivalente a 630 campos de futebol.
Vai produzir, em 2012, 22 mil barris de petróleo por dia.
Em 2010, a refinaria emprega 9 mil trabalhadores.
Custará US$ 13 bilhões.
Em torno da Abreu e Lima serão instaladas unidades para produzir matéria prima para um pólo de indústrias têxteis.

Em torno de Abreu e Lima vão trabalhar seis estaleiros.
E o Brasil voltará a ser um dos fortes produtores mundiais de navios: “a retomada da indústria naval acontece em Pernambuco”, diz Inaldo Campelo, diretor de gestão de Suape.

Dia 3 de maio, o presidente Lula vai lançar ao mar o primeiro deles.
O estaleiro Atlântico Sul, da Camargo Corrêa, Queiroz Galvão e da Samsung tem 22 embarcações contratadas, mais o casco da plataforma P-55.
92% dos funcionários do Atlântico Sul são pernambucanos.
A Bunge tem em Suape o maior moinho da América do Sul.
Suape tem a ambição de ser um centro produtor de plataformas e sondas para atender à demanda do Pré-Sal.

Suape permitirá que um navio chegue em 7 dias ao porto de Nova York, e, em 9 dias, a Roterdã.
Num raio de 800 km, Suape atinge 7 capitais do Nordeste, que representam 90% do PIB nordestino.

O governador Eduardo Campos criou doze escolas técnicas em doze micro-regiões de Pernambuco.
Uma delas fica em Suape, que já qualificou 3.800 jovens.
Tem um SENAI dentro de Suape.
O Hospital D. Helder Câmara está em construção.
O sistema de transportes integrará ao sistema de metrô e de transporte de toda a região de Recife.
O Governo de Pernambuco não quer reproduzir Camaçari, na Bahia, onde, ao lado de um complexo petroquímico, houve favelização.
Eduardo Campos criou 5 universidades e um Centro de Pesquisa Nuclear.
Eduardo Campos criou também um Centro Fármaco-Químico.
Uma Cidade Digital já existe nas instalações do antigo porto de Recife, com mais de cem empresas.
Suape vai recuperar a casa grande do engenho Massangana, onde viveu Joaquim Nabuco.

Em 2009, o PIB de Pernambuco cresceu 3,8%, enquanto o do Brasil caiu 0,2%.
Pernambuco, sob Eduardo Campos, cresceu muito acima da média brasileira.
É uma China dentro do Brasil.
É a nova locomotiva do Brasil.
“Enquanto pernambucano, devemos tirar o chapéu para o Lula. Ele ajuda não só Pernambuco, mas o Brasil. Muitos pernambucanos já estão voltando.” disse Campelo.
Eduardo Campos tem 43 anos.
Ele dá de 10 a 0 no José Serra, o “economista competente” que não é um nem outro.
Segundo o pernambucano Fernando Lyra, Eduardo Campos será presidente do Brasil.

Georgia Pinheiro e Paulo Henrique Amorim
Publicado em 22/04/2010
http://www.conversaafiada.com.br/economia/2010/04/22/suape-e-uma-revolucao-em-pernambuco-o-pernambucano-quer-voltar/

Os caminhos contra o crime

Vínculo entre desigualdade e criminalidade é direto. Estudo mostra ainda que jovens são mais afetados pela diferença social

Daniel Torres, iG São Paulo | 25/04/2010 07:54
http://ultimosegundo.ig.com.br/brasil/os+caminhos+contra+o+crime/n1237595297760.html

Um retrato perverso. Cento e dezessete brasileiros são assassinados por dia no País. Em dez anos, entre 1997 e 2007, 512,2 mil assassinatos. No ranking da violência, o País amarga a sexta posição, entre 91 pesquisados, perdendo apenas para El Salvador, Colômbia, Guatemala, Ilhas Virgens e Venezuela. Os dados fazem parte do mais recente Mapa da Violência – estudo elaborado pelo sociólogo Julio Jacobo Waiselfisz e único sobre o tema a abranger todos os Estados do País.

"Esses números são realmente surpreendentes até para nós que estudamos a violência. Porque é totalmente diferente do que se ouve falar do Brasil: um País pacífico, alegre, acolhedor", afirma Tião Santos, coordenador de projetos de segurança pública e juventude do Viva Rio. Exemplos em cidades fora do País e aqui mostram que é possível reverter, ou melhorar, este quadro. O caminho, dizem os especialistas, investimento na polícia e na qualidade de vida das pessoas.

Melhor qualidade de vida

Para Santos, a prioridade é trabalhar com políticas que deem fim ao abismo que separa pobres e ricos no País. “Embora tenha melhorado nos últimos anos, existe uma extrema desigualdade entre as classes sociais mais ricas e mais pobres no País”.

Dados divulgados pela Organização das Nações Unidas (ONU) neste ano mostram que cinco cidades brasileiras estão em as 20 mais desiguais do mundo. São elas: Goiânia (10.º lugar), Belo Horizonte (13.º), Fortaleza (13.º), Brasília (16.º) e Curitiba (17.º). Na América Latina, o Brasil, segundo estudo da ONU, é o país com maior distância social. O Rio, na 28.ª posição, e São Paulo, na 39.ª, também são cidades com alto índice de desigualdade, de acordo com o relatório.

O mexicano Eduardo Lopez Moreno, que coordenou o relatório que analisou 138 cidades em 63 países, também destaca que o vínculo entre desigualdade e criminalidade é direto. Diz ele: “cidade mais desigual gera muito mais problemas sociais. Estatisticamente, existe o vínculo”.

O Mapa da Violência é um exemplo. O estudo organizado pelo professor Waiselfisz, em comparações de diferentes índices, mostra que mais do que a pobreza absoluta ou generalizada, é a pobreza convivendo com a riqueza que teria maior poder de determinar altos níveis de homicídio em uma região.

Segundo o estudo, quase 48% da variação dos índices de homicídio total é explicado pela variação dos índices de concentração de renda. Mais ainda, diferentemente do que acontece com o indicador de pobreza, o referente à concentração da renda explica melhor os homicídios juvenis (50,7%). Em outras palavras, os jovens seriam mais afetados pelos diversos efeitos e manifestações da concentração de renda.

sábado, 24 de abril de 2010

LIBERDADE DE EXPRESSÃO

Quem “controla” a mídia?

Por Venício A. de Lima em 24/4/2010
http://www.observatoriodaimprensa.com.br/artigos.asp?cod=586JDB016

Reproduzido da Agência Carta Maior, 23/4/2010

Você já ouviu falar em Alexander Lebedev, Alexander Pugachev, Rupert Murdoch, Carlos Slim ou Nuno Rocha dos Santos Vasconcelos? Talvez não, mas eles já "controlam" boa parte da informação e do entretenimento que circulam no planeta e, muito provavelmente, chegam diariamente até você, leitor(a).

Enquanto na América Latina, inclusive no Brasil, a grande mídia continua a fazer de conta que as ameaças à liberdade de expressão partem exclusivamente do Estado, em nível global confirma-se a tendência de concentração da propriedade e controle da mídia por uns poucos megaempresários.

Na verdade, uma das conseqüências da crise internacional que atinge, sobretudo, a mídia impressa tem sido a compra de títulos tradicionais por investidores – russos, árabes, australianos, latino-americanos, portugueses – cujo compromisso maior é exclusivamente o sucesso de seus negócios. Aparentemente, não há espaço para o interesse público.

Na Europa e nos Estados Unidos

Já aconteceu com os britânicos The Independent e The Evening Standard e com o France-Soir, na França. Na Itália, rola uma briga de gigantes no mercado de televisão envolvendo o primeiro ministro e proprietário de mídia Silvio Berlusconi (Mediaset) e o australiano naturalizado americano Rupert Murdoch (Sky Itália). O mesmo acontece no Leste europeu. Na Polônia, tanto o Fakt (o diário de maior tiragem) quanto o Polska (300 mil exemplares/dia) são controlados por grupos alemães.

Nos Estados Unidos, a News Corporation, de Murdoch, avança a passos largos: depois do New York Post, o principal tablóide do país, veio a Fox News, canal de notícias 24 horas na TV a cabo; o tradicionalíssimo The Wall Street Journal; o estúdio Fox Films e a editora Harper Collins. E o mexicano Carlos Slim é um dos novos acionistas do The New York Times.

E no Brasil?

Entre nós, anunciou-se recentemente que o Ongoing Media Group – apesar do nome, um grupo português – que edita o Brasil Econômico desde outubro, comprou o grupo O Dia, incluindo o Meia Hora e o jornal esportivo Campeão. O Ongoing detém 20% do grupo Impressa (português), é acionista da Portugal Telecom e controla o maior operador de TV a cabo de Portugal, o Zon Multimídia.

Aqui sempre tivemos concentração no controle da mídia, até porque , ao contrário do que acontece no resto do mundo, nunca houve preocupação do nosso legislador com a propriedade cruzada dos meios. Historicamente são poucos os grupos que controlam os principais veículos de comunicação, sejam eles impressos ou concessões do serviço público de rádio e televisão. Além disso, ainda padecemos do mal histórico do coronelismo eletrônico, que vincula a mídia às oligarquias políticas regionais e locais desde pelo menos a metade do século passado.

Desde que a Emenda Constitucional nº 36, de 2002, permitiu a participação de capital estrangeiro nas empresas brasileiras de mídia, investidores globais no campo do informação e do entretenimento atuam aqui. Considerada a convergência tecnológica, pode-se afirmar que eles, na verdade, chegaram antes, isto é, desde a privatização das telecomunicações.

Apesar da dificuldade de se obter informações confiáveis nesse setor, são conhecidas as ligações do Grupo Abril com a sul-africana Naspers; da NET/Globo com a Telmex (do grupo controlado por Carlos Slim) e da Globo com a News Corporation/Sky.

Tudo indica, portanto, que, aos nossos problemas históricos, se acrescenta mais um, este contemporâneo.

Quem ameaça a liberdade de expressão?

Diante dessa tendência, aparentemente mundial, de onde partiria a verdadeira ameaça à liberdade de expressão?

Em matéria sobre o assunto publicada na revista CartaCapital nº 591, o conhecido professor da New York University, Crispin Miller, afirma em relação ao que vem ocorrendo nos Estados Unidos:

"O grande perigo para a democracia norte-americana não é a virtual morte dos jornais diários. É a concentração de donos da mídia no país. Ironicamente, há 15 anos, se dizia que era prematuro falar em uma crise cívica, com os conglomerados exercendo poder de censura sobre a imensidão de notícias disponíveis no mundo pós-internet (...)."

Todas estas questões deveriam servir de contrapeso para equilibrar a pauta imposta pela grande mídia brasileira em torno das "ameaças" à liberdade de expressão. Afinal, diante das tendências mundiais, quem, de fato, "controla" a mídia e representa perigo para as liberdades democráticas?

sexta-feira, 23 de abril de 2010

A decadência mundial dos meios de comunicação

Eduardo Graça, de Nova York, e Gianni Carta, de Paris
Carta Capital n° 591 - 14 de abril de 2010 - Pag.78

A decadência mundial dos meios de comunicação acelera um processo ruim à democracia: a concentração da propriedade nas mãos de poucos magnatas

No mundo dos negócios, um claro sinal da decadência de um setor é a rapidez com que a propriedade e o centro do poder mudam de mãos. Repare no que aconteceu à indústria automobilística: as gigantes norte-americanas definharam ou foram vendidas, enquanto o eixo do lucro migrou para as companhias da Ásia. E veja o que tem ocorrido na mídia. Nos Estados Unidos e na Europa assiste-se a uma acelerada concentração do controle e uma mudança geográfica no perfil dos maiores acionistas. Despontam russos, árabes, australianos e latino-americanos, alguns deles com inequívoca vocação para cidadãos Kane, o inescrupuloso proprietário de jornais, maravilhosamente retratado por Orson Welles no clássico filme que leva o nome do personagem.

Chega a ser um paradoxo. Em várias partes do planeta, inclusive no Brasil, há um frenesi dos donos de meio de comunicação com o que consideram ser um movimento orquestrado para inibir suas liberdades. Em geral, os senhores apontam seus indicadores em direção a governos ou associações civis interessadas em estabelecer discussões mínimas sobre os direitos dos cidadãos diante do poder desigual da mídia. Ironicamente, a maior ameaça às famílias tradicionais e à própria natureza do empreendimento – sem falar nos riscos reais à democracia – vem justamente da ascensão de um novo tipo de empresário do setor, incapaz de separar seus interesses particulares do caráter público da imprensa (parênteses: não se trata aqui do caso brasileiro, onde nunca houve essa separação).

O exemplo mais recente a ameaçar os velhos princípios da imprensa foi a compra, em março último, do inglês The Independent, um dos mais consistentes jornais do mundo, pelo bilionário russo Alexander Lebedev. Ex-agente da KGB, Lebedev também controla o vespertino londrino The Evening Standard.

Na França, outro Alexander, também bilionário e russo, mas com sobrenome Pugachev e apenas 25 anos, adquiriu o France--Soir. Na Itália, instalou-se uma briga de cachorro grande. O australiano naturalizado norte-americano Rupert Murdoch, dono da onipresente News Corporation e o mais bem acabado Cidadão Kane da atualidade, briga no mercado televisivo com o premier Silvio Berlusconi. Desde a chegada da Sky na Itália, em 2003 (via satélite), a relação entre o barão da mídia de 79 anos e o Cavaliere, de 73, oscilou. A partir de 2008, contudo, quando a receita da Sky superou a do grupo Mediaset de Berlusconi (três canais terrestres privados de tevê), a coisa encrespou. “O problema é comercial e ao mesmo tempo político”, avalia a jornalista Veronica Collatti, da rádio franco-italiana Envie d’Italie. “Berlusconi acusa Murdoch de instigar os seus jornais contra ele para desviar a atenção do cerne da questão: o sucesso da Sky na Itália.”

Se ainda se entende por que Murdoch formou a Sky Italia, com a fusão dos canais Telepiu e Stream, o que o leva a comprar jornais com dívidas faraônicas é uma incógnita. A mídia europeia não foi poupada pela crise econômica e, antes dela, pelo advento da internet e de jornais gratuitos. “Se você se sentar em um vagão de metrô no centro de Londres é mais provável ver as pessoas lendo mensagens nos seus celulares ou assistindo DVDs nos seus laptops”, observa Matt Barker, jornalista londrino que escreve para, entre outras, a mensal Esquire. Barker acrescenta: “É possível que dentro de um ano a maioria dos senhores em ternos escuros na primeira classe de um TGV de Londres para Paris não mais lerão seus jornais no formato papel”.

Magnatas estrangeiros interessados em jornais falidos podem, às vezes, inverter, ou ao menos desacelerar, esse processo. Veja o caso do France-Soir. Até dois meses, o periódico com tiragem de 1 milhão, nos anos 50 vendia meras 22 mil cópias. Mas em 17 de março último, sete novas rotativas voltaram a rodar para imprimir 500 mil exemplares. Cerca de 20 milhões de euros foram gastos em marketing. Em anúncios para a tevê, uma mulher, vestida como nos anos 50, caminha enquanto lê o tabloide; um senhor elegante, ao seu lado, estica o pescoço e faz o mesmo; um menino com uma pilha de cópias do France-Soir debaixo do braço alça um exemplar com a boca aberta para, claro, aguçar a curiosidade dos transeuntes com as últimas notícias.

O russo Pugachev contratou mais 50 jornalistas, entre eles o famoso ex-apresentador do canal TF1 Patrick Poivre d’Arvor. A redação conta agora com 90 repórteres. O jornal, fundado em 1944 por dois ex-integrantes da Resistência francesa, ganhou novo design, tornou-se mais colorido, arejado, as letras estão maiores. O novo dono não mede gastos com fotos: as quer de excelente qualidade, custe o que custar.

Édouard Bailby, jornalista veterano que escreve para o Le Monde Diplomatique, é cético em relação a esses magnatas. “Não tenho nada contra um russo que compra um diário francês”, explica. “O problema é este: comprar jornal virou um negócio mercantil. É como virar dono de um supermercado. E isso afeta a credibilidade da imprensa.”

Sobre o endividamento do France-Soir e outros detalhes sabe-se pouco, ao -menos se o interessado procurá-los nos diários franceses. Mais eficazes (e divertidos porque têm maior senso de humor), os veículos do lado superior do Canal da Mancha fornecem minúcias sobre as recentes vendas de jornais para Lebedev. No ano passado, o Independent e o semanário Independent on Sunday perderam (antes de serem computados impostos) 31 milhões de euros. Mas o Independent não é exceção: no mesmo período Times e The Sunday Times, ambos de Murdoch, sofreram perdas anuais de 87,7 milhões de libras.

O professor de comunicação Tomasz Goban-Klas diz que, na Polônia, a questão da nacionalidade dos barões da mídia também inquieta leitores, ouvintes e telespectadores com níveis mais elevados de escolarização. “Aqui, 80% da imprensa escrita é controlada por quatro empresas alemãs”, afirma Goban-Klas. Fakt, o diário com a maior tiragem (450 mil exemplares), é inspirado no Bild Zeitung e pertence ao grupo alemão Alex Springer. A fórmula do Bild foi exportada para vários países do Leste Europeu, onde, segundo o professor Goban-Klas, a crise da imprensa é mais lenta do que na Europa Ocidental. O Polska,- outro diário com a considerável tiragem de cerca de 300 mil exemplares, tem uma parceria editorial com o The Times de Londres, mas faz parte do grupo alemão Velagsgruppe Passau. Alex Springer também é dono da Newsweek polonesa.

Na Itália, Berlusconi não apela para o nacionalismo ao lidar com Murdoch. A contenda entre os dois começou no ano passado, quando o premier aprovou um imposto de 20% para as tevês pagas. Detalhe: a Sky Italia controla 90% do mercado e a Mediaset de Berlusconi, meros 5%. Poucos meses mais tarde, o Times de Londres (de Murdoch) publicou um artigo sobre a estranha amizade do Cavaliere com uma adolescente de 18 anos. Intitulado A Máscara do Palhaço Caiu, o artigo apresenta um bufão, de então 72 anos, que contrata mulheres 50 anos mais jovens como suas assistentes pessoais. O premier lhes oferece empregos como modelos, e algumas até viram eurodeputadas. Isso sem contar as festinhas com as moçoilas.

Possesso, Berlusconi disse que o artigo era fruto da raiva de Murdoch em ter de pagar impostos. Murdoch se defendeu: “Eu não decido o que meus editores publicam”. Em seguida, o magnata australiano processou o império midiático de Berlusconi porque os canais terrestres do premier se negavam a vender espaço para os comerciais da Sky Italia. O veredicto: ninguém pode forçar a Mediaset a vender espaço, mas a holding deveria levar em conta que não estaria se portando de forma correta. Murdoch se deu por satisfeito.

A jornalista Collatti pondera que, de qualquer forma, 70% dos italianos se informam por três canais públicos da RAI e os três da Mediaset. Portanto, a vasta maioria dos italianos não sabe grande coisa sobre a briga com Murdoch. Barker, o jornalista da Esquire que vive entre Londres e Milão, acrescenta que a Sky Italia, e em particular seu canal Tg24, o primeiro canal 24 horas do país, faz bem para uma nação onde a mídia é dominada pelo premier.

Nos Estados Unidos, o debate sobre o controle da mídia também anda quente. Em sua coluna no Los Angeles Times, o jornalista Steve Lopez, conhecido pela adaptação para o cinema no ano passado de seu livro O Solista, com Robert Downey Jr. e Jamie Foxx, perguntou na última semana de março de forma direta: mas como é que a bilionária Meg Whitman ainda não comprou meia dúzia de jornais para alavancar sua candidatura à sucessão do governador Arnold Schwarzenegger?

A ex-CEO do site eBay, após meteórica passagem pelo banco Goldman Sachs e de ser cogitada para assumir a Secretaria do Tesouro em um virtual governo John McCain, gastou, em pouco mais de dois meses, 46 milhões de dólares em uma campanha que ainda deve custar, até novembro, pelas estimativas de Lopez, outros 200 milhões. “Esta é a nossa democracia. Enquanto se vive uma recessão e desemprego recordes, uma candidata bilionária gasta essa obscenidade em propaganda. Com esse dinheiro, ela poderia ter comprado uns cinco ou seis jornais e preenchido o espaço das notícias com fotos dela e reportagens sobre sua carreira”, sentencia.

No cenário de terra arrasada da mídia norte-americana, a provocação do veterano repórter revela, de forma crua, um dos efeitos mais nefastos da perda de valor de títulos jornalísticos acima do Rio Grande: a concentração de meios de comunicação nas mãos de alguns poucos investidores. O processo não é novo e, já no segundo governo Clinton, o professor da Universidade de Nova York Mark Crispin Miller, um dos principais especialistas em mídia e cultura da academia norte-americana, elaborou uma série de edições históricas da revista The Nation sobre o que ele definia como o cartel da mídia norte-americana.

A sequência de exemplares temáticos havia sido estimulada após a aprovação, pelo Congresso, do chamado Telecommunications Act, que desregulava o setor e seria o principal responsável, nos anos seguintes, pelo desaparecimento de mais de 4 mil rádios locais em todo o país e o lançamento de uma nova rede de tevê a cabo com notícias 24 horas, a Fox News, cujo proprietário, Rupert Murdoch, já era dono do tabloide mais popular do país, o New York Post.

De lá para cá, lembra Crispin Miller, a situação só piorou: Murdoch arrematou o venerado The Wall Street Journal, o estúdio cinematográfico Fox Films e a editora Harper Collins. Enquanto isso, a CNN foi absorvida pelo conglomerado Time Warner, a ABC é parte da Disney, a Comcast espera a aprovação de Washington para engolir a NBC Universal e até o altivo The New York Times teve de aceitar entre seus acionistas importantes o homem mais rico do planeta, o empresário mexicano Carlos Slim.

“O grande perigo para a democracia norte-americana não é a virtual morte dos jornais diários. É a concentração de donos da mídia no país. Ironicamente, há 15 anos, se dizia que era prematuro falar em uma crise cívica, com os conglomerados exercendo poder de censura sobre a imensidão de notícias disponíveis no mundo pós-internet que gerou o que defino como melt-down jornalístico nos EUA”, pondera Crispin Miller. E a imprensa ianque, de acordo com o editor da série Ícones da América, um dos carros-chefe da editora da Universidade de Yale, é muito mais vulnerável do que a europeia no que diz respeito ao controle e editorialização da notícia.

Quando um Alexander Lebedev compra um jornal como o The Independent – casa de jornalistas celebrados nos quatro cantos do planeta, como Robert Fisk, quiçá o mais respeitado repórter especializado no Oriente Médio –, há em -contrapartida uma instituição como a BBC, financiada e gerida pelo público.

Na segunda-feira 5, a PBS, rede pública de tevê norte-americana financiada com dinheiro privado, propaganda e doações de indivíduos, apresentou o documentário Mídia: O jornalismo em crise, em que destacou dados como a diferença de investimento público na imprensa nos países industrializados. Enquanto a Alemanha investe 11 bilhões de dólares por ano em sua rede pública de comunicações, o Japão quase 7 bilhões e a Grã-Bretanha pouco mais de 5 bilhões, os EUA alocam 480 -milhões por ano para todo o seu sistema de mídia pública, que inclui os Correios.

“É vergonhoso. Somos o único país desenvolvido que nem sequer tem um Ministério das Comunicações. O setor é controlado por uma comissão especial do Congresso, a FCC (acrônimo de Federal Communications Commission), totalmente refém dos lobbies. E falar em Correios faz sentido nesse contexto, pois o aumento do valor da taxa postal nas últimas décadas foi um dos fatores para a extinção de revistas locais, pouco mencionado nessa discussão”, ataca Crispin Miller.

Em seu recém-lançado The Death & Life of American Journalism – The media revolution that will begin the world again, outra estrela da The Nation, Robert W. McChesney, lembra que a primeira voz a clamar seriamente pela independência dos EUA foi a de um jornalista, Tom Paine, em 1774, no Philadelphia Journal. Ele definiu a “essência da liberdade” como um governo independente gerido por cidadãos bem informados. Por conta da própria herança do país, enfatiza McChesney “é um pré-requisito para a nossa democracia não apenas uma imprensa livre, mas competitiva, cética, combativa e tão plural quanto a nossa sociedade”.

O autor descarta tanto mais uma mudança da legislação na área de comunicação quanto a busca de um novo modelo de exploração de propaganda na internet como soluções para a crise. “A sociedade americana precisa encarar o jornalismo tal qual ele o é hoje: um bem público que não é mais viável comercialmente. Se quisermos jornalismo, teremos de ter subsídios públicos”, aponta.

Ele lembra ainda que, na última reunião da FCC em 2009, um de seus mais destacados representantes, o senador democrata e candidato derrotado à Presidência pelo Partido Democrata John Kerry, citou de forma dura a frase do lendário Joseph Pulitzer, imortalizada em uma placa na Universidade de Colúmbia: “Nossa república e nossa imprensa vão ascender e afundar de braços dados”.

Por todos os lados, reage-se à gradual desregulamentação do setor – incrementada em 2003 quando a FCC aumentou de 25% para 45% a possibilidade de um mesmo dono ou grupo concentrar mídia em qualquer localidade. Em março, quando o Journal anunciou com toda pompa a criação de um Caderno Metropolitano com o objetivo de competir com seu principal rival em Nova York no segmento de notícias regionais, o Times reagiu com uma série de reportagens que incluíram até mesmo uma crítica de um genro de Rupert Murdoch ao jornalismo conservador da Fox News. “Tenho vergonha mesmo do nível a que chegou o jornalismo da News Corporation”, disparou o dono britânico de empresas de relações públicas Matthew Frued, casado com Elizabeth, filha de Murdoch.

O ataque do New York Times, obviamente, tem mais a ver com o risco de perder anunciantes locais para o rival Journal do que com uma preocupação nobre com a pluralidade de imprensa, um dos pilares da democracia norte-americana. Mas a transformação de um dos símbolos do jornalismo financeiro de alto nível da imprensa norte-americana em um jornalão opinativo é a ponta do iceberg do assalto do setor por figurões e conglomerados pouco simpáticos à matéria-prima do jornalismo: a reportagem, a busca da notícia.

Em artigo publicado na edição recente da New Yorker, o editor-contribuinte da revista Atlantic Monthly, Michael Hirschorn, lembra que uma das premissas de Ted Turner quando da criação da CNN era a de que os norte-americanos precisavam de um canal- de notícias 24 horas cobrindo o mundo, especialmente diante do crescente americacentrismo das redes de tevê abertas e, anos mais tarde, ao opinionismo da Fox. “Pois ele estava completamente errado. Apesar de grandes eventos mundiais, como o terremoto no Haiti, a CNN havia perdido metade de seus espectadores em um ano, de acordo com a Nielsen”, escreve Hirschorn. Chegou-se ao cúmulo de o talk show das 3 da manhã da Fox ter mais audiência do que o horário nobre da CNN, com nomes como Anderson Cooper e Larry King.

Quando Crispin Miller era visto como mais um profeta do mau agouro, na virada do século, a CNN lucrava 300 milhões de dólares por ano e era considerada pelo então CEO da Time Warner, Jerry Levin, responsável pela controversa fusão da empresa com a AOL, “uma das joias de nossa coroa”. A outra era a revista Time, semanal ainda dedicada a notícias (e cada vez menos reportagens) de maior circulação dos EUA. “É cada vez mais difícil em nossa cultura digital – e olha que ainda não começamos a ver vídeos em nossos iPads – reinventar uma marca. A CNN durou duas gerações para ir da vanguarda para a retaguarda do setor. De um certo ponto de vista eles foram abençoados. O Yahoo! e a AOL, por exemplo, que neste momento tentam se reinventar, não duraram mais do que uma geração”, diz Hirschorn.

Foi justamente para não se tornar a nova CNN, esmagada pelo rolo compressor da News Corporation, que o Times vendeu 7% de suas ações para Slim. Na primeira semana de março, os boatos de que a família Ochs-Sulzberger cederiam o controle de um dos jornais mais influentes do planeta para o empresário mexicano fizeram com que as ações do grupo subissem de forma estratosférica. No mesmo dia, em um evento no principal fórum da indústria imobiliária de Nova York, Murdoch disse que “duvidava que os Sulzberger venderiam o jornal, ainda mais para um mexicano”. E aproveitou para apoiar o lançamento da candidatura ao Senado pelo Partido Republicano de outro barão da imprensa local, Mort Zuckerman, proprietário do tabloide New York Daily News, o de maior vendagem na cidade no momento.

Editora da The Nation, Katrina Vanden Heuvel resume a discussão no programa apresentado em horário nobre: “Debate, opinião, é muito mais barato, não custa muito. Notícia, reportagem, são outros quinhentos. O jornalismo norte-americano, tal qual funciona nos dias de hoje, é uma ameaça para a democracia norte-americana”. Uma das estrelas da rede de TV MSNBC, a rival à esquerda da Fox News, Keith Olbermann, teoricamente uma das vítimas da afirmação de Katrina Heuvel, concorda que o fracasso do velho modelo de notícias reduziu o espaço para a pluralidade de ideias no jornalismo ianque, mesmo com a segmentação da mídia em múltiplos canais de tevê e rádio: “Cresci em Nova York com três noticiários na tevê e seis no rádio, mas a variedade de ideias era maior”.

A revolução nas terras de Thomas Jefferson – santo-patrono dos jornalistas ianques por conta de sua afirmação de que “entre um país sem governo e sem imprensa, escolheria a primeira opção” – parece passar necessariamente por Washington. Mas o governo Obama, acreditam, tem sido tímido ao extremo no que diz respeito a um ataque ao cartel da mídia. “A única iniciativa que este governo se propõe no setor é aumentar o acesso à internet de banda larga nos rincões do país. É muito pouco. Este é o momento ideal para se pressionar por um modelo mais próximo do canadense, por exemplo, em que os cidadãos, ao comprar um aparelho de tevê ou de rádio, pagam uma taxa que vai direto para um órgão público de comunicação. Direito a informação é um bem inalienável do cidadão, um de nossos direitos mais básicos, fundamentais, por exemplo, para a fiscalização de eleições e a discussão de temas importantes para a sociedade”, diz McChesney.

quinta-feira, 22 de abril de 2010

O enterro das ilusões

Cynara Menezes
Carta Capital n° 592 - 21 de abril de 2010 - Pag. 54
www.cartacapital.com.br

Secretária-executiva da Cepal afirma que o mundo precisa de mais e melhor Estado

Referência e celeiro de muitos dos pensadores autônomos entre o México e a Patagônia, a Comissão Econômica para a América Latina (Cepal), fundada em 1946, viveu um ostracismo durante a hegemonia do pensamento neoliberal no continente. O tempo – e a crise mundial – se encarregaram de dar razão aos chamados cepalinos. “A crise levou a humanidade inteira a ver que se requer um papel muito mais ativo por parte do Estado, um ente público que regula, fiscaliza, observa, monitora”, defende a mexicana Alicia Bárcena, primeira mulher a se tornar, a partir de 2008, secretária-executiva do órgão das Nações Unidas. Bióloga com mestrado em Administração pela Universidade de Harvard, Alicia Bárcena vai além ao assumir o chamado de sua geração e questionar o próprio capitalismo.

CartaCapital: Por que houve forte diminuição da pobreza na América Latina, mas não da desigualdade?
Alicia Bárcena: A pobreza diminuiu na América Latina sobretudo entre 2002 e 2008. Nesse período de bonança, baixou de 44% a 33%. Na realidade, também ocorreu uma diminuição da desigualdade em cerca de oito países da região, entre eles o Brasil. Foi a primeira vez na história que isto ocorreu. Um aspecto que ajudou foi a transição demográfica, a razão de dependência nos lares baixou. Há menos dependentes por domicílio e, portanto, aumenta o poder aquisitivo. Este não é um fator controlável, mas foi positivo para a redução da pobreza. Há cada vez menos crianças de zero a 5 anos nas casas. De qualquer forma, é uma janela de oportunidades que vai se fechar porque os maiores de 60 anos também estão chegando à velhice.

CC: Mas continuamos sendo o continente mais desigual.
AB: Sim, continuamos a ter a pior distribuição de renda do planeta. Isto ocorre porque há uma concentração escandalosa em alguns países, sobretudo, e também uma pobreza extrema. Os programas sociais na região têm conseguido fazer os mais pobres ascenderem, mas é preciso também programas de redistribuição de riqueza.

CC: Em termos práticos, o que se pode fazer?
AB: Uma política fiscal com enfoque redistributivo. Ou seja, que por um lado se estabeleçam impostos diretos sobre a renda e onde aqueles que ganham o mesmo, nos níveis mais altos, paguem impostos de forma paritária, sem exceções ou lacunas tributárias. E que se possa expandir a base tributável. Sei que não são boas notícias, mas é necessário.

CC: Essa fase de bonança à qual a senhora se refere tem a ver com a eleição de presidentes de esquerda na América do Sul?
AB: Houve uma combinação positiva, não só no Brasil, mas também na Venezuela, no Chile e na Bolívia, de prudência macroeconômica com uma política social progressista. Essa combinação foi muito importante para a política social e para a igualdade. A política fiscal, a estabilidade, o superávit primário e o crescimento de nada servem sem política de igualdade. Houve na região, nesta última década, pacotes de políticas sociais muito efetivos, como, por exemplo, as transferências condicionadas. Essas transferências tiveram bastante sucesso em chegar à pobreza mais dura, aos mais miseráveis. Alguns deles lograram sair dessa pobreza.

CC: Há quem acuse de assistencialistas esses programas de complementação de renda.
AB: Nós, na Cepal, temos muito claro que são uma parte essencial da política social. A comissão estudou a fundo o chamado Bolsa Família no Brasil, o Chile Solidário – há 17 países que aplicam esses programas. E é mínimo o investimento de dinheiro público diante do tremendo benefício social que tiveram. Foram eficazes em tratar de complementar a renda das famílias mais pobres ante uma razão de dependência menor. É inegável a importância desses programas ao dar prioridade à alimentação infantil, porque se investe na geração seguinte. Quando não se alimenta a criança entre zero e 5 anos, perde-se uma geração. Além do mais, determinam que as crianças vão à escola. Então não é a fundo perdido, é um investimento. Agora, não se trata de um programa eterno. É preciso que se saia da pobreza. Não necessariamente colocar mais pobres para fazer parte do programa, e sim o contrário.

CC: Dizem os críticos que esses programas deixam as pessoas preguiçosas, que não vão trabalhar porque têm dinheiro garantido.
AB: Pois o que temos visto é que é um programa que confere maior poder às mulheres em casa, porque essa renda adicional se dá a elas, cabe a elas administrar o dinheiro. Esse fortalecimento de gênero é um tema muito interessante, porque a mulher, e isso temos visto em diversas partes, consegue inclusive economizar um pouquinho e investir em uma atividade produtiva. Quando se combina com o acesso ao crédito, à propriedade, pode incrementar os ativos de uma família. E as cifras falam por si mesmas. Entre 2002 e 2007, a pobreza no Brasil caiu de 34% a 23%, a indigência de 14% a 7,9%. Estamos falando de um período onde se trabalhou profundamente contra a pobreza e o Bolsa Família alcança 11 milhões de lares. É muito forte. A queda da pobreza no Brasil é impressionante. Aos críticos do programa, acho que os dados dizem tudo.

CC: A senhora costuma falar que para o futuro será necessária uma mudança de modelos na América Latina. De que tipo?
AB: Em primeiro lugar, não existe um só modelo para a região. Estamos nos afastando da visão de que há fórmulas únicas. Temos de nos afastar daquele pensamento de que o mercado é a solução, onde a autorregulação é a solução. Não foi a Cepal, foi a crise que levou a humanidade inteira a ver que a autorregulação não funcionou e que se requer uma maior supervisão, um papel muito mais ativo por parte do Estado, um ente público que regula, fiscaliza, observa, monitora. Todos temos a visão de que é preciso encontrar uma nova equação nas relações entre o Estado, o mercado e a sociedade.

CC: Mas a intervenção do Estado na economia continua sendo muito malvista, não? Aqui, a candidata do governo é acusada de ser estatizante, como se fosse uma assassina ou algo do gênero.
AB: Tudo depende do que se entenda por isso. Estamos preparando um documento sustentando que o Estado deve ter, não diria intervenção, mas uma ação para o fornecimento de bens públicos. Nisso o mercado autorregulado não foi bem-sucedido, essa é a verdade. Portanto, o que se requer é mais Estado, melhor Estado, mais mercado, melhor mercado. A dicotomia “ou Estado ou mercado” é falsa. Creio que é necessário um equilíbrio. Antes havia um desequilíbrio onde reinava o mercado. É a partir do Estado que se podem conseguir regras claras do jogo, estabilidade política de longo prazo. O próprio setor privado requer regras claras. Estamos fazendo propostas audaciosas. Uma delas é o controle das contas de capital. Pensamos que o Estado deve ter uma atitude concreta sobre a entrada dos capitais em um país onde o ideal é que entrem, mas em investimentos produtivos, na geração de emprego. No Brasil, o Estado já tem uma atitude proativa e isso foi muito exitoso. Os resultados estão aí.

CC: A senhora fala em desenvolvimento na América Latina e não crescimento. Qual é a diferença?
AB: O crescimento só, a estabilidade só, está bem, mas o que queremos é um maior desenvolvimento social, um maior desenvolvimento sustentável. Ao fim e ao cabo o que se busca é o bem-estar, não a acumulação de bens por uns poucos. O que se busca é o desenvolvimento de uma maior quantidade de gente, que a população, mais que mão de obra barata, se converta numa fonte muito importante de riqueza, pelo consumo massivo.

CC: Como predisse o presidente Lula, a crise no Brasil foi uma marolinha. E nos outros países da região?
AB: A queda do PIB no Brasil foi de 0,2%. Compare com o do México, de 6,5%... Quando os EUA, epicentro do terremoto, caíram, levaram o México junto. As partes mais afetadas da região pela crise foram o México, a América Central e o Caribe, e muito menos a América do Sul. O Brasil é a economia que está saindo mais rápido da crise, mas também o Chile, o Peru e a Bolívia também não estão mal. Tem a ver com o fato de que são economias que possuem commodities muito estratégicas, com preços bem fixados. Talvez o grande desafio do futuro seja como tratar o tema dos preços das commodities e como manejar o excedente.

CC: A Cepal tinha uma previsão de aumento do desemprego na região?
AB: Para 2009, nossas estimativas eram de 9% e fechamos o ano com uma estimativa muito mais baixa, de quase 8,1%. Isso foi o efeito de algumas das políticas contracíclicas aplicadas pelos governos, inclusive no Brasil, que fechou com um desemprego abaixo da média da região. Houve programas deliberados para a manutenção do emprego, estabilizadores automáticos como o seguro-desemprego. É preciso dizer que as pessoas não saíram a buscar trabalho em tempos de crise, mas, por outro lado, houve programas de caráter público que motivaram as empresas, como no Brasil os subsídios à indústria automobilística atados à não demissão. Na Argentina e no Chile, houve iniciativas parecidas e renderam frutos.

CC: Houve um economista brasileiro de direita, Roberto Campos, que costumava dizer que o desemprego é o único defeito do capitalismo. E, de fato, ele está em todas as partes. Não existe solução para o desemprego?
AB: Devolvo a pergunta: é o capitalismo a solução para a sociedade? Tenho dúvidas. Sinto-me mais seduzida pelos ideais de uma geração do que de uma certa vertente. Atrai-me muito o tema da igualdade social, creio profundamente na necessidade de persegui-la.

quarta-feira, 21 de abril de 2010

EM DEFESA DA CREDIBILIDADE DA INTERNET

Não devemos veicular na internet notícias, artigos ou comentários que as pessoas não possam verificar a fonte de onde foram extraídos. Senão corremos o risco de publicar opiniões e afirmações apócrifas.
A internet está repleta de calúnias, notícias mentirosas, boatos e relatos inverídicos com o objetivo de destruir a reputação de adversários, políticos principalmente.
Temos que tomar cuidado com o que recebemos através desta rede que, como tudo na vida, por ser uma coisa maravilhosa ou péssima dependendo do uso que fazemos dela.
Por isso não devemos dar crédito nem retransmitir mensagens que recebemos e que não possamos verificar a autenticidade das mesmas.
Se não tomarmos cuidado com o que enviamos pela rede, a internet pode, em pouco tempo, se transformar num canal de veiculação de informações e contra-informações sem nenhuma credibilidade.

É recomendável também não expormos na rede os endereços das pessoas com as quais nos comunicamos. Para isso, quando enviarmos uma mensagem para várias pessoas ao mesmo tempo, devemos apagar todos os endereços que constem da mesma e enviá-la como “Cco” (Com cópia oculta).

Maria das Graças (Neném) - 19/04/1940 a 09/04/2010


Á Nossa irmã,
Maria das Graças Marinho Moraes
(quem a conheceu de perto sabe o quanto se orgulhava desse nome).

SIMPLICIDADE

É assim que me lembro de você minha irmã. Uma pessoa que pautou toda sua vida na simplicidade.

Você era a pessoa que conheci mais fácil de fazer feliz, porque seus desejos, seus sonhos... eram tão simples que conseguíamos realizar sem esforço algum.

E você ficava tão grata, tão feliz, que chegava até a incomodar porque nós sabíamos que não tinha sido sacrifício algum. A sua simplicidade era que dimensionava o valor de gestos tão simplórios.

.......

Estivemos perto de você nos seus últimos momentos de vida e testemunhamos comovidos o quanto apesar de seu sofrimento e da gravidade de sua enfermidade, mesmo só conseguindo falar ENTÃO, ENTÃO... Você exprimia sua gratidão com a nossa presença, se incomodava por achar que estava nos incomodando, nos dando trabalho.

Presenciamos o quanto ficou feliz quando soube que aquele hospital onde estava internada era fruto, um direito seu, referente aos anos trabalhados. Vimos muitas vezes seus olhos marejados d´agua, de orgulho, quando algum de nós informava aos médicos, enfermeiros e funcionários do hospital que suas duas filhas eram enfermeiras.

Meu Deus!... Quanta sabedoria tinha o seu coração minha irmã, que conseguia ver os valores onde eles realmente estão; nas pequenas coisas.

......

Pois é minha irmã, ENTÃO você se foi. E nós ficamos tão angustiados nesses oito dias em que esteve hospitalizada tentando entender o que você queria dizer na seqüência daquele ENTÃO que você repetia incessantemente.

Você não conseguiu falar, mas eu finalmente com sua partida consegui entender.

Entendi que ENTÃO você tinha ido embora, que ENTÃO você não estaria mais, nos nossos encontros, nos nossos Natais. Que assim na SIMPLICIDADE que você veio ao mundo e que você viveu; você se foi. E que a vida é assim, SIMPLES, um dia se perde e outro dia se ganha.

Perdemos você, mas com a certeza de que agora numa dimensão maior, SIMPLESMENTE você vive esse seu novo tempo, acolhida por DEUS.

Continuamos amando você!

Rutinha

15/04/2010

quarta-feira, 14 de abril de 2010

Loja de armas nos EUA

Foto tirada por Paulinha em sua recente visita a Boston nos EUA.
Clique na imagem para ampliar.

VENDEMOS ARMAS!
SEM REQUISIÇÃO DE IDENTIDADE.
SEM CHECAGEM DE ANTECEDENTES.
CRIMINOSOS E TERRORISTAS BEM-VINDOS!

quinta-feira, 8 de abril de 2010

O que temos para mostrar?

Nos últimos dias venho refletindo sobre o que temos para mostrar aos estrageiros que nos visitam.
Sujeira, pobreza, violência, criminalidade, povo mal-educado que joga lixo na rua, transporte público deficiente, trânsito caótico, "flanelinhas", mendicância, corrupção, etc.
O calor está insuportável, o rio Capibaribe está poluído, os canais que cortam a cidade são verdadeiras cloacas.
Temos algumas coisas boas para mostrar; Instituto Ricardo Brennand, Oficina Francisco Brennand, jardim Zoobotânico de Dois Irmãos , museus, igrejas, praças, praias, alto da Sé em Olinda, Porto de Galinhas, arquitetura antiga e moderna e um povo alegre e hospitaleiro apesar de tudo.
Será que essas coisas boas compensam as coisas ruins que nós temos?
Sem esquecer que: mais importante que ter o que mostrar aos estangeiros é melhorar as condições de vida do nosso povo.
Será que nossos governantes atuais estão fazendo alguma coisa para solucionar os nossos problemas?
Será que os futuros governantes consequirão reverter esta situação nos próximos dez ou vinte anos?
O que vocês acham?